O HORIZONTE ANTROPOLÓGICO NO ADVENTO DA TÉCNICA
INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO
A relação existente entre o poder próprio da técnica, suas atuações sobre a natureza e sua afinidade com o sujeito humano está entre os temas que mais obtiveram destaque entre as investigações de Hans Jonas. Observa o filósofo que a técnica se manifestou na era moderna como um importante mecanismo que possibilitaria ao homem atingir objetivos que até então se encontravam fora dos limiares da possibilidade humana e até mesmo da própria imaginação do sujeito (JONAS, 2006, p. 63).
Encantado com as diversas possibilidades propiciadas pela técnica acerca de uma autoconstrução de seu próprio sujeito e de uma determinação objetiva na existência da própria natureza, o homem moderno, sem a mínima hesitação, mergulhou com todo o seu ser na realidade técnico-científica emergente. Essa ação humana sob a técnica gerou, à mesma, uma avantajada e explosiva marcha progressiva. Tal movimento fez da técnica mais do que um simples objeto de atuações do organismo humano, mas, muito além de um simples mecanismo de ajustes e possibilidades, transformou-a no próprio campo de existência humana, pelo qual todas as aspirações do horizonte correspondente ao homem necessitam passar para se objetivarem como realidade correspondente.
Com o movimento tecnológico próprio do pensamento progressivo da Idade Moderna começou o processo de alteração na visão que se formara a respeito da natureza, aquela mais divinizada, colocando-a num patamar de subordinação às inteligências e as atuações humanas. Mais tarde com Revolução Industrial ocorrida no século XVIII, as mudanças passaram da natureza para o ser humano, tendo em vista a pretensão da burguesia nos lucros e nas produções em grande quantidade, na busca por esse objetivo se fez necessário a produção de técnicas para acelerar o processo – maquinário – onde começa a adequação do homem para com a máquina trazendo mudanças éticas e antropológicas no horizonte humano.
Com a segunda Revolução Industrial no final do século XIX a situação somente se agravou, usando-se e aperfeiçoando-se as máquinas desenvolvidas nos tempos modernos, porque a demanda do mercado consumidor aumentou significativamente fazendo o homem aumentar sua velocidade de produção também, obrigando-o a adequar os movimentos de seu corpo as máquinas.
Jonas, além da possibilidade catastrófica de uma objetiva morte da própria natureza, visualiza a possibilidade efetiva de um movimento apocalíptico, que ocorre de maneira gradativa, devido ao exagerado crescimento técnico e científico do homem, ou melhor, ao uso desorientado de toda a sua inteligência técnica-científica, como o movimento ocorrido no período da revolução industrial.
O advento da técnica, enquanto movimento progressivo desloca a categoria primordial concernente ao homem de fruto da natureza para senhor absoluto da mesma. Até o início do movimento progressivo, de acordo com Jonas, a vida era “auto-sustentável” no sentido de manutenção, no entanto com o avanço do homem houve a consolidação da ideia de supremacia absoluta do homem sobre as demais expressões de vida e liberdade.
A técnica desenvolvida pela razão humana deu ao homem um universo de possibilidades até então inimagináveis. A ciência passou a exercer o papel de legisladora das ações e a natureza a ser vista como campo de experimentações, nesse mundo de possibilidades o homem se esqueceu da natureza como uma dádiva e passou a ver como formas de se obter o que deseja.
Até Jonas, pensava-se que os resultados das ações humanas, positivos ou negativos, situavam-se dentro do campo do presente das próprias ações, sendo impensável a possibilidade de tais resultados causarem alguma espécie de problema àquilo que se considerava natureza ou de os mesmo serem geradores de qualquer alteração no equilíbrio da vida e da natureza. Vendo o inadequado e catastrófico pensamento errôneo do homem, Jonas, em contraponto do pensamento ético vigente em sua época, estabelece a proposta inovadora: o dever de preocupação com a saúde da vida humana e extra-humana no seu horizonte de totalidade, a saber, até mesmo naquilo que diz respeito à ideia de vida no futuro. Tal ideia pode ser formulada da seguinte maneira:
“Age de tal modo que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a terra”; ou, expresso negativamente: “Aja de modo a que os efeitos da tua ação não sejam destrutivos para a possibilidade futura de uma tal vida”; ou, simplesmente: “Não ponhas em perigo as condições necessárias para a conservação indefinida de uma humanidade sobre a Terra”; ou, em um uso novamente positivo: “Inclua na tua escolha presente a futura integridade do homem como um dos objetos do teu querer” (JONAS, 2006, p. 47, 48).
A vulnerabilidade da natureza em relação às ações humanas é, de acordo com Jonas, extremamente perigosa, uma vez que não se tratam apenas de alterações superficiais, mas é a própria esfera de vida planetária, a totalidade da biosfera terrestre que está comprometida. A tecnologia criada pelo homem está provocando mudanças na natureza e sua própria antropologia, não se pensa mais no papel de manutenção, de cuidado e de responsabilidade com a continuidade de sua própria vida, enquanto humanidade, e com toda e qualquer possibilidade de vida na terra, tanto presente (no que condiz com a existência da vida em atualidade) quanto futura, mas principalmente esta última.
A vida, para Jonas, em última instância é auto-afirmação constante e continuada. Os organismos naturalmente tendem à preservação da vida, é papel da própria vida. No entanto, com a incidência das subjetividades humanas frente ao campo de vida, na natureza e, principalmente, com a ação desenfreada da técnica, tendo como ditadora de verdades a ciência, toca-se o sinal de alerta não somente para a possível destruição da existência do homem efetivo e sua natureza, mas a própria ideia de homem distorcendo a essência humana enquanto ser e caindo na possibilidade de um apocalipse gradual.
Faz-se, portanto, necessário, a existência de um pensamento norteador de ações, cujo cerne esteja sob a égide da responsabilidade com a própria vida em seus níveis e possibilidades mais diversificados e plausíveis de previsões, a saber, a ética da responsabilidade.
OBJETIVO
Apresentar os fundamentos autênticos da responsabilidade no que diz respeito à ética jonasiana frente à existência do organismo humano, seu agir coletivo e seu poder tecnológico.(apresentar como deve ser o agir humano num mundo tecnológico perante os fundamentos de uma ética da responsabilidade em jonas.)
PROBLEMATIZAÇÃO
Compreender como o homem deve agir, sob a luz reflexiva da ética, no horizonte da civilização tecnológica, uma vez que a própria natureza tornou-se objeto do agir humano.
METODOLOGIA
A presente pesquisa desenvolver-se-á por meio de atividades que permitam, a partir de leituras de referências bibliográficas, localizar e definir a relação existente entre o homem e a responsabilidade, sob o pano de fundo da técnica moderna, acerca da ética da responsabilidade.
Especificamente serão realizadas investigações criteriosas acerca uma das duas principais obras de Hans Jonas, a saber, o Princípio Responsabilidade – ensaio de uma ética para a civilização tecnológica.
Além da referência citada, também poderão ser utilizados autores de pesquisas paralelas à jonasianas, dentre áreas do campo da biologia, da tecnociência, da biotecnologia e demais áreas relacionadas, a saber, o problema da técnica e a crítica à tradição na ética de Hans Jonas, de Robinson Santos, a transanimalidade do homem: uma premissa do princípio responsabilidade de Jelson Oliveira e a ética da responsabilidade em Arendt e Jonas de Sônia Schio.
CRONOGRAMA
Mês | Atividades previstas |
Agosto | - reuniões do grupo de estudos sobre Ética jonasiana - 1ª etapa temática da pesquisa: Compreender a relação existente entre homem e técnica naquilo que concerne à formação da responsabilidade no horizonte antropológico, segundo Hans Jonas; |
Setembro | - Segue a pesquisa bibliográfica e as reuniões do grupo de estudos; - 2º etapa temática da pesquisa: Apresentar os meios reflexivos utilizados por Jonas para legitimar a responsabilidade de maneira total no homem; |
Outubro e Novembro | - Segue a pesquisa bibliográfica. -3º etapa da pesquisa: apresentação da relação existente entre homem e técnica naquilo que concerne à formação da responsabilidade no horizonte antropológico, segundo Hans Jonas; |
Dezembro | - 4º etapa da pesquisa: Compreender como o homem deve agir, sob a luz reflexiva da ética, no horizonte da civilização tecnológica. |
REFERENCIAS
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC/Rio, 2006.
OLIVEIRA, Jelson Roberto de. A transanimalidade do homem: uma premissa do princípio responsabilidade. Revista Dissertatio [da] Universidade Federal de Pelotas, Outubro. 2010.
SANTOS, Robinson dos. O problema da técnica e a crítica à tradição na ética de Hans Jonas. Revista Dissertatio [da] Universidade Federal de Pelotas, Novembro. 2009.