Uelton


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CURSO: LICENCIATURA EM FILOSOFIA
1°PERÍODO       SEMESTRE
DISCIPLINA: Prática Profissional em Filosofia
PROFESSOR: Daniel Omar Perez
ALUNO: Uelton Cordeiros dos Santos




De como filosofar é aprender morrer.


Problema: A morte como limitação do ser humano 


Introdução
morrer
“[Do lat. vulg. morrere, por mori.]
Perder a vida; falecer, finar-se, morrer-se, expirar, perecer [Sin., muitos deles bras., pop. ou de gíria: abotoar, abotoar o paletó, adormecer no Senhor, apagar, apitar, assentar o cabelo, bafuntar, bater a alcatra na terra ingrata, bater a(s) bota(s), bater a caçoleta, bater a canastra, bater a pacuera, bater com a cola na cerca, bater o pacau, bater o prego, bater o trinta-e-um, bater o trinta-e-um-de-roda, botar o bloco na rua, comer capim pela raiz, dar a alma a Deus, dar a alma ao Criador, dar à casca, dar à espinha, dar a lonca, dar a ossada, dar com o rabo na cerca, dar o couro às varas, dar o último alento, defuntar, desaparecer, descansar, descer à cova, descer a terra, descer ao túmulo, desencarnar, desinfetar o beco, desocupar o beco, desviver, dizer adeus ao mundo, embarcar, embarcar deste mundo para um melhor, empacotar, entregar a alma a Deus, entregar a alma ao Diabo, entregar a rapadura, espichar, espichar a canela, esticar, esticar a canela, esticar o cambito, esticar o pernil, estuporar (-se), expirar, fechar o paletó, fechar os olhos, fenecer, finar (-se), ir para a cidade dos pés juntos, irem para a Cacuia, ir para a Cucuia, ir para bom lugar, ir para o Acre, ir para o beleléu, ir para o outro mundo, ir-se, ir (-se) desta para melhor, largar a casca, passar, passar desta para melhor, passar desta para melhor vida, pifar, pitar macaia, quebrar a tira, render a alma ao Criador, render o espírito, vestir o paletó de madeira, vestir o pijama de madeira, virar presunto] (Verbete do Dicionário Aurélio Eletrônico - V.2.0).”

O ser humano se sente limitado quando se depara com o fim da vida. Não questionamos quando e como vai ser nossa partida deste mundo, ou seja, a morte sempre nos pega de supressa, apesar de ser algo natural, não nos conformamos com o nosso fim e nem com a perda daqueles que amamos. Pensamos em viver e tudo que fazemos é para isso, estamos sempre desejando uma vida melhor e duradora. Esta pesquisa aborda sobre este assunto a morte segundo Michel de Montaigne, o homem se sente limitado diante desta realidade.
Filosofo nos convida a pensar na morte como remédios para os nossos males e esperá-la de pé e de cabeça erguida , quem bem se prepara para ela “Se soubestes usar a vida e gozá-la quanto pudestes, ides-vos e vos declarais satisfeito: ‘por que não sair do banquete da vida como um conviva saciado?” O homem parte com tranqüilidade e a certeza de missão cumprida. Porém questionar sobre a morte não é tão fácil para o ser humano, a morte nos lembra que é o fim de tudo, nos sentimos tristes quando nos deparamos com esta realidade. Michel de Montaigne fez uma filosofia sobre a morte e nos diz que “filosofar é aprender a morrer” Como assim?

“Filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte” Cícero. “Isso, talvez, porque o estudo e a contemplação tiram a alma para fora de nós, separam-na do corpo, o que, em suma, se assemelha à morte e constitui como que um aprendizado em vista dela. Ou então é porque de toda sabedoria e inteligência resulta finalmente que aprendemos a não ter receio de morrer. Em verdade, ou nossa razão falha ou seu objetivo único deve ser a nossa própria satisfação, e seu trabalho tender para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada Escritura.”
Montaigne nos fala que desprezamos a morte e não nos preparamos para ela por causa da virtude: “Um dos principais benefícios da virtude está no desprezo que nos inspira pela morte, o que nos permite viver em doce quietude e faz se desenrole agradavelmente e sem preocupações nossa existência.” Outro ponto que, o filosofo mostra:” o ser humano despreza morte porque despreza a dor, à pobreza e outros acidentes que a que está sujeito a vida humana, nem todos o fazem com igual cuidado, o porquê tais acidentes não nos atingem forçosamente.”
A morte é uma realidade, como a vida, e forma de nos “por fim aos nossos males. E ela própria é inevitável: ‘Marchamos todos para morte; nosso destino agita-se na urna funerária: um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, o nome de cada um dali sairá e a barca fatal nos levará a todos ao eterno exílio’”
Michel de Montaigne nos convida a não tremer a morte, quem tem medo dela é porque não ver que a meta de nossa existência é a morte e ele fala que ela é o nosso objetivo fatal. Quem tem medo de morrer segundo o filosofo é quem não se prepara para ela, é alguém estúpido, vulgar e se apavora só de ouvir a palavra: “Morte”
A realidade morte não é somente para as pessoas que são idosas, os jovens também podem morrer, mas infelizmente só de pensa na morte ou se prepara para ela quando está idoso ou doente: “Jovens e velhos se vão da vida em condições idênticas. Partem todos como se acabassem de chegar...” Porem mesmo sendo idoso o ser humano sempre deseja prolongar a vida assim como nos dar o exemplo o filosofo, de Matusalém (homem mais da história da Bíblia), enquanto muitas vezes não resta muito tempo de vida.
A morte tem varias formas de surpreender e o homem não percebem as ameaças que o cercam: “O homem nunca pode chegar a prever todos os perigos que o ameaçam a cada instante.” E Montaigne nos dar muitos exemplos de pessoas que foram surpreendidas pela morte, pessoas jovens, ricas, que gozavam de saúde, que não esperavam pela morte e que morreriam com insignificantes acidentes, como o exemplo do Duque de Bretanha que foi sufocado pela multidão, o medico Caio Julius, ao tratar, dos olhos de um paciente, teve os seus fechados para sempre e outro que morreu engasgado com uma semente de uva, então a vida do ser humano corre risco constantemente e para fechar com os exemplos ele dar o exemplo de seu irmão, alguém com o cargo importante, Capitão Santin Martins, de vinte e quatro anos que morreu por causa de uma bolada na orelha direita quando estava jogando, não algo tão grave, pois não precisou interromper o jogo, e só depois de cinco horas que eles morreu, atacado de apoplexia causada pelo golpe recebido. Com estes exemplos percebemos que a morte não escolhe suas vitimas, também não tem hora marcada e os acontecimentos ou acidentes são graves. Tais acontecimentos com outras pessoas nos deveriam levar a refletir sobre a nossa morte. Mas acontecem ao contrário nos não pensamos em nossa morte e por isso quando ela vem e nos surpreende diz Montaigne: “Quantos tormentos, gritos, imprecações, desespero”.  O homem tende sempre a fugir da morte, mas ela sempre alcança o homem seja ele corajoso ou covarde e como diz o filosofo no momento nada poderá nos protege: Nenhuma couraça nos protege, nem se cobríssemos de ferro e de bronze, a morte nos atingiria sob a armadura, ele continua precisamos esperá-la de pé firme e a lutar. Tiremos dela o que há de estranho.
A filosofia de Montaigne sobre a morte não é uma antecipação, pessoas que já não querem mais viver e por isso seu desejo é morrer, pessoa que já não ver sentido na vida e por isso querem como solução a morte, quando ele filosofa sobre esse assunto seu objetivo é questionar o porquê das pessoas desejarem sempre viver e esquecem a realidade morte, ou seja, o ser humano não se prepara para a morte, tenta sempre fugir.
Para o filosofo meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade, quem aprende a morrer, desaprende o servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos exime de sujeição e constrangimento.
O homem é limitado aos prazeres da vida e por isso não questiona sobre seu fim, porém quando ver que logo está chegando o momento de sua partida fica preocupado, pede a acalma e deseja uma chance, pois se sente injustiçado pela natureza, acha que é jovem de mais, que não viveu tudo o que tem para viver, reclama que seu fim é prematuro e a partir deste momento ele dar valor cada minuto que restam de sua vida, pois cada minuto a menos é aproximação do seu declínio, antes a vida era vividos sem nenhuma preocupação, entre festas e senhoras, amores, com muita animação, agora é recolhimento, tristeza, sofrimento, o homem que sabe que vai morrer e não pode fazer nada para prolongar pelo menos mais um dia, a morte não pode ser controlada pelo ser humano, por isso lhe causa medo. “Para fazer o que me cumpre fazer antes de morrer, todo tempo me parece curto, ainda que se trate de trabalho de uma hora.”
Quem se prepara morrer, não será surpreendido quando chegar o momento de sua partida. Quando chegar o momento estaremos tranquilo e na espera, não será um sofrimento: “Vamos agir, portanto e prolonguemos os trabalhos da existência quanto pudermos, e que a morte nos encontre a plantar as nossas couves, mas indiferentes ä sua chegada e mais ainda ante as nossas hortas inacabadas.” Neste ponto o filosofo dar a entender que quem se prepara para morte durante a vida não tem medo dela, quando ela chega além da pessoa não ser surpreendida, ela também não estava parada, limitada, reclamando, se lastimando, porém estava continuando sua vida, trabalhando e se alegrando normalmente. O homem quando se prepara para o seu fim, não se limita a morte, mas vive cada momento com intensidade, dando sentido, ele não deixa de viver.
Outras culturas como mostram tão bem Michel, eles tem outro conceito de morte e encara-a com alegria, como os egípcios em seus festins faziam apresentar aos convivas uma imagem da morte, que lhes gritava: ”bebe, goza, pois serás assim depois de morto”, Michel de Montaigne nos diz que precisamos desfazer dessas preocupações vulgares e nocivas, pensar na morte com espírito de alegria, dando um novo sentido para ela.
“Quanto mais desprender da vida e me aproximar da morte, tanto mais facilmente me conformarei com a passagem de uma para outra”.
Não devemos tremer a morte, pois assim se tornaria uma opressão, um injustiça, onde jamais poderemos suportar. A morte da deve ser encarada como um tirano, mas segundo o filosofo como: “um Deus que me libertara das escravidões e dos ferros, das correntes”.
Para Montaigne o homem sofre por antecipação com a morte e deveria aceitá-la já é algo inevitável, não adianta se lastimar antes do tempo: “Que tolice nos afligirmos no momento em que nos vamos ver livres de nossos males! Lastimar não mais viver dentro de cem anos é tão absurdo quanto lamentar não ter nascido um século antes.
Devemos aceitar morte segundo Michel não como o fim mais o começo de outra vida: Ä morte é a origem de outra vida. Nascemos entre lagrimas e muito nos custou entrar na vida atual; passando para uma nova vida despojemo-nos do que fomos à precedente.
Um ponto muito interessante que o filosofo aborda neste momento é a duração da vida, que não basta ser longa, mas bem vivida, pois quem viveu um minuto e viveu bem, com certeza teve o prazer em viver, porém os que não deram valor o ser viver, quando chegada à partida acha que precisa viver mais.
Morrer faz parte da Natureza e cada dia que passa de nossa vida é uma aproximação da morte: “A natureza nos ensina: sais deste mundo como nele entrastes. Passastes da morte ä vida; sem que fosse por efeito de vossa vontade e sem temores; tratai de vos conduzirdes de igual maneira ao passardes da vida à morte; vossa morte entra na própria organização do universo: é um fato que tem seu lugar assinalado no decurso dos séculos. Morrer é a parte integrante de vós mesmos. A existência de que gozais participa da vida e da morte há um tempo; desde o dia de vosso nascimento caminhais concomitantemente na vida e para a morte: ‘nascer é começar a morrer; o último instante de vida é consequência do primeiro. ` O tempo que viveis, vós o roubais à vida e a restringis proporcionalmente. Vossa vida tem como efeito conduzir-vos a morte”. Montaigne continua dizendo: “Se soubestes usar a vida e gozá-la quanto pudestes, ides-vos e vos declarais satisfeito: ‘por que não sair do banquete da vida como um conviva saciado? ` Se não soubestes usar, se ela vos foi inútil, que vos importa perde-la?”
“A preparação para a morte no Fédon, essa capital, a meu ver, é a importância creditada à imaginação por Montaigne, ausente na argumentação e na figura do Sócrates platônico bem como na de Cícero nas Tusculanas. Conceda-se que em uma passagem do Fédon, Sócrates diz que o verdadeiro filósofo não teme a morte, pois nunca deixou de pensar nela104, entretanto não está explicitado o aspecto de uma simulação mental contínua do momento de morrer, pois ‘pensar nela’ significa, nesse contexto, saber e reconhecer, diga-se, teoricamente a sua existência.
Com isso, passo ao segundo método de obtenção da almejada resolução no dia final. Como a morte é inevitável e imprevisível105, devemos estar preparados para ela a todo o momento106.
Montaigne nos insta a pensar sempre nela, imaginando eventuais desfechos para nossa vida a cada instante. Montaigne  incorpora acentua o peso da imaginação da própria morte, como uma ficção ou seqüência de ficções macabras que se colocam diante de um personagem singular – ele mesmo.
A mais importante discussão gira em torno do caráter excludente ou complementar das duas razões ou interpretações que Montaigne oferece do dito de Cícero. A maioria dos críticos118 tem opina do que o autor  nega a primeira interpretação, a saber, de que a preparação para a morte seja o desligamento gradativo do corpo, para assentir à segunda, de que ela é um aprendizado do destemor, havendo, pois, uma disjunção entre elas. Outros acreditam que as duas proposições se complementam119. Parece-me que forçosamente há de fato uma disjunção e uma opção pela segunda parte, pois Montaigne não se apoia como já disse, na separação ontológica entre corpo e alma120, embora se fie numa analogia estética e ética com a morte.
Brody, ao tentar negar a existência de uma evolução nos Ensaios, lança mão, por vezes, de argumentos muito fracos, por exemplo, dizer que o “Que filosofar é aprender a morrer” não pode ser tomado como paradigmático de uma primeira fase por ser constituído de quarenta e dois por cento de acréscimos B e C121! O autor das Novas Leituras de Montaigne argumenta, procurando base num contexto de recepção, que, por ser um truísmo na época, o lema platônico-ciceroniano tinha apenas “uma função formal”122.
Gérard Defaux vê no projeto de preparação para a morte um remédio que se torna veneno, tendo o autor dos Ensaios sido, desde o capítulo 20 do livro I, um seu crítico123. As teses defendidas nesse capítulo seriam por assim dizer postiças, pois seu autor as ensaia isto é, experimenta, sem aderir a elas. O indício que Defaux reputa como claro para essa constatação é a presença de uma retórica do fingimento nas citações implícitas e explícitas de Cícero e Sêneca124 bem como no uso dos pronomes ‘eu’, ‘tu’ e ‘nós’125. A máscara que essas palavras constituiriam ocultaria a linhagem estóica da preparação para o morrer, que, portanto, passaria a ser exibida em algo como entrelinhas que cada vez mais vêm à tona seja como rejeitável qual um espantalho126 ou veneno, seja simplesmente como irrealizável127. Além da estratégica da polifonia dos pronomes, nosso comentador firma-se no posicionamento tático de dois capítulos sobre a morte (I, 19 e I, 20) entre um capítulo sobre o medo (I, 18) e outro sobre a imaginação (I, 21) para advogar que Montaigne acredita que o medo da morte é aguçado e não curado por nossa imaginação.”[1]

 Conclusão:
 Quando pensa no seu fim o homem se sente limitado, porque pensar em morrer é pensar na dor, no sofrimento e homem foge do sofrimento.
“Filosofar é aprender morrer” Michel nos fala que pensar na morte é se despojar deste mundo, a morte é uma forma de nos libertar e acreditar que a morte é a origem de uma nova vida, não podemos ver a morte como um tirano, não devemos tremer a morte mais encará-la-á de frete, se conformar com a morte, pois correr dela é inevitável e quando ela vem é de surpresa, pode levar jovens ou idosos.
Cada dia que passa é uma aproximação da morte, para Montaigne a vida nos leva a morte e a morte nos leva vida.
Quando Montaigne nos fala: “Filosofar é aprender morrer” não é se limitar a ela, deixar de viver, o está desiludido de tudo e suicidar, não é uma preparação para uma realidade que um dia todos teremos que fazer a experiência, assim como fizemos a experiência de nascer e que viemos chorando e devemos partir deste mundo sorrindo, tranqüilos, mas só acontecera isso a aqueles que bem viveram, mesmo que só um minuto. Pois não importa viver muito e sim tenho vivo intensamente.



Referencias:

1º Montaigne,  de Michel, Ensaios, coleção – Os Pensadores,  Capitulo XX -De como filosofar é aprender a morrer, págs 48-54
2º Vaz ,Lúcio - Da simulação da morte: versão e aversão em Montaigne, Belo Horizonte, FAFICH-UFMG2008.


[1] Lúcio Vaz