Rafael



PONTICÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO
PARANÁ – PUC-PR





PROJETO DE PESQUISA:

O CONCEITO DE FORMA DE VIDA (LEBENSFORM) EM WITTGENSTEIN: A SUPERAÇÃO DA CONCEPÇÃO DESPRENDIDA DO HOMEM




RAFAEL MARENGONI JÚNIOR






CURITIBA,
MAIO DE 2011
TÍTULO:
O conceito de forma de vida em Wittgenstein: a superação da concepção desprendida do homem.

PROBLEMA:
De que modo o conceito de forma de vida de Wittgenstein - “Lebensform”, permite superar a concepção cartesiana de homem?

OBJETIVOS:
Objetivo geral: analisar o conceito de forma de vida e seus elementos constituintes (jogo de linguagem, regras e seguimento de regras) como condição para o estabelecimento de uma concepção de homem engajado, dotado de um corpo e inserido num determinado contexto.

Objetivos específicos:
1. Analisar o chamado momento antropológico em Wittgenstein, indicando de que maneira a concepção de isomorfia foi superada por aquela que reivindica lugar especial para as práticas contextuais.
2. Analisar a arquitetura composicional de uma forma de vida.
3. Descrever as características de uma forma de vida enquanto pano de fundo para a ação humana.

INTRODUÇÃO AO TEMA:
O racionalismo de matiz cartesiana, ao explicar os procedimentos adequados do pensamento racional, como componente da própria constituição da mente, produziu uma espécie de “ontologização”. Tal ação resultou numa visão de desprendimento do homem de seu mundo e de sua comunidade.
Wittgenstein procurou romper com essa concepção de homem, como agente desprendido de sua realidade, ao apresentar seus últimos trabalhos que sugerem: a existência do homem como agente engajado, como conseqüência de sua inserção num “pano de fundo”, numa cultura, num “mundo”, numa forma de vida. A forma de vida de Wittgenstein apresenta a capacidade de moldar o homem, conforme a experiência resultante de sua constituição corpórea, enfim de sua maneira de vivenciar o mundo moldado pela cultura e pela forma de vida.
O Racionalismo Cartesiano nos legou múltiplas conseqüências para a concepção de homem, principalmente no que se refere à capacidade que o mesmo possui de conhecer as verdades. Ele marcou profundamente não só os procedimentos racionais do homem, como também de sua forma de vida, e de sua maneira de recolher informações coerentes do mundo. O racionalismo se preocupou muito com as estratégias da razão, que passaram a ser lidas como fundamentais no ato de pensar corretamente. Tudo deve ser avaliado. Para isso, o homem deve isentar-se de toda e qualquer ação que não esteja associada àquilo que se obtêm quando do mergulho do homem no cogito.
Para que isto fosse possível disponibilizou um método, um procedimento ideal no qual se deve confiar e seguir. Esta sobrevalorização do método de acesso à verdade produziu não só o que se pode denominar de sua “ontologização”, como também, abriu portar para a certeza da informação primitiva que está em nossa mente de modo inato. A partir desta convicção, todas as nossas crenças sociais e comuns devem ser evitadas no exercício de conhecimento uma vez que podem produzir e produzem, com certeza, um cenário de distorções sobre a verdadeira visão de mundo. Por isso, a informação primitiva, que está em nossa mente, demonstra a força do conhecimento inato.
Há na razão moderna características relevantes a ser consideradas. A força das convicções de Descartes parece estar sustentada no procedimento que devemos usar para chegar à verdade. A razão não parece ser para o autor do Discurso do Método uma faculdade que nos conecta com uma ordem de coisas do universo que pode ser tomada por si só como acional. Antes disso, a razão é uma faculdade mediante a qual pensamos adequadamente. A razão, em seu emprego teórico tem como objetivo construir um quadro do mundo. Assim, nossa visão das coisas não pode se formar de modo ingênuo ou de acordo com as precondições de uma época específica. Como indicamos acima, Descartes, em suas conclusões, sugere que as chamadas “idéias simples”, terminam por elaborar uma reificação da mente. A exclusividade dedicada a esse modelo não considerou que o homem devesse ser tomado em sua totalidade enquanto inserido uma determinada história e num meio específico, ou seja, inserido no seu “mundo”, como participante ativo das regras que o determinam e eu o fazem agir; eis o homem desprendido de Descartes. A identificação do procedimento com a própria mente faz entender que o desprendimento, exigido por Descartes, implique no esforço para que o homem, na tarefa de conhecer, supere toda e qualquer experiência corporificada. O conhecimento é independente do corpo.
Wittgenstein em sua filosofia, ou seja, naquele pensamente nascido de Investigações Filosóficas elaborou argumentos bastante sólidos que permitem enfrentar a visão cartesiana da mente e da subjetividade como elementos desprendidos da realidade. É possível localizar no filósofo vianense uma espécie de “pano de fundo” (as formas de vida), capaz de superar as determinações do racionalismo cartesiano. É possível colher de suas considerações uma noção de homem como “agente engajado”, o que equivale a dizer: de um homem situado em um determinado contexto. Sabemos da reivindicação feita pelo filósofo no que se refere à verdade enquanto resultado do uso de uma expressão e, mais do que isso, do seguimento de regras que o homem faz quando se põe em consenso com seus pares. Neste sentido, parece não ser estranho, pelo contrário, é até necessário que se retome a idéia de que nossas experiências dependem, em parte, também do fato de termos um corpo. O corpo deve ser tomado como base para cada uma das experiências que realizamos, pois é dessa forma que nasce a credibilidade de nossos conhecimentos.
O problema que orienta essa pesquisa consiste na indagação sobre a força determinante da “forma de vida”, ou seja, daquilo que podemos denominar de pano de fundo, enquanto instancia de superação do desprendimento sugerido pelo racionalismo cartesiano. Assim, o questionamento se apresenta: de que maneira, a concepção de forma de vida de Wittgenstein (Lebensform) permite superar os limites antropológicos do racionalismo cartesiano?

FORMULAÇÃO DA PROPOSTA DE RESOLUÇÃO DO PROBLEMA:
O presente projeto será desenvolvido por meio de atividade que permita, a partir das referências bibliográficas disponíveis, localizar a temática antropológica em Wittgenstein. Considerando a pesquisa, os textos analisados serão os textos do chamado Wittgenstein tardio, mais especificamente daqueles que compõe o entorno da obra Investigações Filosóficas. Além da análise da obra, será necessário uma incursão sobre o vasto material oportunizado pelos comentadores, em especial, por aqueles que indicam haver em Wittgenstein elementos suficientes para a superação do modelo cartesiano.




CRONOGRAMA

Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro  
Leitura – ”Investigações Filosóficas” X X  
Leitura da literatura complementar X  
Fichamento das obras X X  
Elaboração do trabalho final X X  
Apresentação X

REFERÊNCIAS

- WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. São Paulo: Nacional,                                   1968. xii, 152 p.

- WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. 350 p.

- CAVELL, Stanleyl, “Declinando do Declínio”, publicado no livro Esta nova América, ainda inabordável (SP., Editora 34, 1997). pp 35-71

- TAYLOR, Charles. Lichtung ou Lebensform: paralelos entre Heidegger e Wittgenstein. In: Argumentos filosóficos. São Paulo: Edições Loyola, 2000. pp 73-91.

- LOURENÇO, M.S. (1998a) "Gênese e Vocabulário da Filosofia da Cultura de Wittgenstein", Disputatio, Volume Suplementar 1, Novembro. p. 34-49.